Como anda sua saúde mental na pandemia?
- Marisa F Mendes
- 23 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2020

Em 30 janeiro 2020, a OMS alertou o mundo sobre surto da doença causada pelo novo coronavírus (Covid-19) constituir uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da Organização. Desde então, os níveis de atenção e medo das populações vêm aumentado em todo o mundo. Em 11 de março de 2020, a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.
No Brasil, o Ministério da Saúde declarou que havia transmissão comunitária da Covid-19 em todo o território nacional, em 20 de março de 2020, ou seja, já não era mais possível identificar como uma pessoa havia sido contaminada, sinal de alerta para o início de medidas não farmacológicas de prevenção: distanciamento social e a não aglomeração de pessoas. E cá estamos.
Cada um de nós já poderia, agora, compartilhar como isso nos afetou. Afinal, como seres gregários, de rebanho, fomos obrigados a nos isolar, distanciar de entes queridos, como amigos e parceiros amorosos.
As novas regras de cuidado aumentaram nosso estado de atenção, fundamental para mantermos os cuidados diários, mas atenção por um período prolongado de tempo aumenta a tensão, o estresse. E estresse crônico é, comprovadamente, desencadeador de doenças: físicas e mentais.
O fato é que estamos prestes a completar 90 dias desde que o Ministério da Saúde declarou haver transmissão comunitária em território brasileiro, quase 150 desde que a OMS declarou o surto de Covid-19 no mundo, e não sabemos quando isso vai acabar. Afinal, até agora, não há uma forma de tratamento definida nem vacina preventiva, e a melhor forma de evitar a contaminação e a propagação do Covid-19 continua sendo os cuidados diários e o distanciamento.
É aí que mora o desafio: como nos mantermos mentalmente saudáveis com tudo isso?
Primeiro de tudo, é preciso reconhecer que em tempos de crise as pessoas não vão estar normais, pelo menos não da forma com que elas se reconheciam normais até esse momento. Numa crise, passa a ser normal sentir tristeza, angústia, preocupação, confusão mental, medo, raiva. E uma pandemia é uma crise.
Sentimentos de desamparo, tédio, solidão, assim como sensação de impotência, irritabilidade também podem ser despertados pelo isolamento, o que não necessariamente significa estar com um transtorno mental.
O medo é o afeto mais esperado, mas, como visto, não é o único. Dentre os medos mais comuns em uma pandemia estão previstos:
Medo de adoecer e morrer.
Medo de ser procurar estabelecimentos de saúde devido ao risco de infecção.
Medo de perder meios de subsistência.
Medo de ser socialmente excluído por ser associado à doença.
Sentimento de vulnerabilidade ao proteger pessoas amadas e medo de perdê-los por causa do vírus.
Medo de ser separado das pessoas que ama e de cuidadores devido ao regime de quarentena.
Medidas preventivas em saúde podem e devem ser consideradas, pois é a longo prazo que essas reações podem gerar consequências. Pessoas anteriormente doentes precisam ser acompanhadas com mais cuidado. Mitigar o impacto de tudo isso começa por reconhecer que temos um problema. É necessário ressignificar, compreender, elaborar os acontecimentos, distinguindo o normal, o esperado, do patológico e assim precaver o desencadeamento de sofrimentos futuros.
Algumas estratégias de cuidado sugeridas pelos órgãos especializados são muito simples e vale a pena serem lembradas.
A mais simples de todas diz respeito a solidariedade. Seja solidário, proteja a si e aos outros. Pode acreditar, solidariedade faz bem a quem recebe e quem oferece.
Diminuir o tempo que você e sua família passam assistindo ou ouvindo notícias perturbadoras é uma prática que deve ser pensada para toda uma vida, quanto mais em meio a uma pandemia. Notícias ruins, muitas vezes sensacionalistas, podem causar e/ou aumentar o sofrimento.
Em um mundo globalizado, com tantas informações, não se deixe levar por fake news. Busque fontes fidedignas de informação no máximo duas vezes ao dia. Lembre-se: fatos ajudam a minimizar o medo, mas tudo o que vemos e ouvimos afeta nosso psiquismo, alterando nosso estado emocional.
Autoconhecimento é sempre importante. Conheça sobre o seu risco em saúde e dos seus familiares e como tomar precauções. Prevenir sempre é melhor que remediar. Tenha um plano, saiba para onde ir e onde procurar ajuda para a saúde física, mental e psicossocial, se necessário.
Cuide de você! Você vai precisar estar bem, até para poder cuidar dos outros. Valem várias formas de cuidado, muitas delas, benéficas antes e depois de tudo isso.
A mais banalizada das dicas é para que você tenha uma rotina diária. Se ainda não a criou, crie agora. Acorde no mesmo horário, troque de roupas, tome um bom café da manhã. Se você está trabalhando em casa prepare um local de trabalho, de preferência com boa iluminação. Se não está, crie uma rotina doméstica. Você pode descobrir talentos que nem sabia que tinha em sua casa.
Rotinas nos ajudam a manter a sensação de controle sobre a vida, além de nos permitir gastar energia com coisas mais importantes do que ter que inventar todo dia um novo modo de viver. Coloque alarmes para pausas, refeições e até para beber água, se você é daqueles que esquece dessas coisas. Aos poucos isso vai virar um bom hábito.
As artes são indispensáveis nesse momento. Invista em aprender algo novo, ler um livro, ver um filme, algo daquela lista de coisas que você vivia dizendo que gostaria de fazer e não tinha tempo.
Sim, exercícios físicos são fundamentais. Além de serem importantes para sua saúde física eles vão ajudar na sensação de controle o que pode auxiliar o seu mental.
O que você come também vai contar muito. Mantenha uma dieta saudável, muitas pesquisas apontam a importância de bons alimentos para sua saúde. Quem sabe você não se descobre com dotes culinários?
Com certeza você já descobriu uma forma de manter contato com pessoas queridas. Os aplicativos de chamadas de vídeo se espalharam por aí e se você ainda não conhece nenhum deles, está mais do que na hora de experimentar um bate papo on-line. Pode acreditar: contato virtual também é contato e ajuda a lembrar que não está sozinho nisso tudo. Mas se você não tem nada disso, que tal conversar pela janela como faziam as pessoas mais antigas?
Por maior que seja uma tentação, evite uso de álcool, tabaco e outras drogas para aliviar o estresse. Elas podem trazer alívio momentaneamente, mas a longo prazo eles pioram seu bem estar. Se as coisas estão tensas a ponto de você precisar desses recursos, talvez já seja a hora de ficar atento, é possível que você, nesse momento, já esteja se sentindo sobrecarregado. Observe seus sentimentos e necessidades. Existem outras formas de aliviar a tensão do dia a dia, e esse pode ser um momento de descobrir. Ainda que você nunca tenha feito isso, e nem saiba muito bem por onde começar, procure um profissional especializado, pode ser um psicólogo, um médico, e se preferir para começar, pode ser até uma pessoa confiável em sua comunidade. Mas busque ajuda.
Com certeza, nem todas essas recomendações são simples de serem seguidas. Mas, como boas recomendações, podem ser tentadas. E claro, cada um, com seu modo de ser, vai encontrar uma forma especial para viver tudo isso. Mas lembre-se, você não está só nisso tudo. Existem diferentes práticas complementares em saúde que podem ajudar a enfrentar esse momento.
Sabendo cuidar de você vai ficar mais fácil cuidar dos outros. Com certeza se você estiver bem vai poder apoiar melhor outras pessoas. E quando tudo isso passar, com certeza, vamos poder nos reencontrar e reconhecer muito mais a importância da vida de outras pessoas em nossa saúde mental.
Para citar esse artigo:
MENDES, Marisa F.. Como anda sua saúde mental na pandemia? Rio de Janeiro, 23 jun 2020. Disponível em: https://www.marisa-mendes.com/single-post/como-anda-sua-saude-mental-na-pandemia. Acesso em:
Para saber mais:
https://www.who.int/home/search#
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875
https://pebmed.com.br/ministerio-da-saude-declara-transmissao-comunitaria-em-todo-o-pais/
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1196-covid-19-cns-recomenda-divulgacao-de-praticas-integrativas-e-complementares-em-saude-pics-na-assistencia-ao-tratamento
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