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Afetos, emoções e sentimentos


 

Afetos, emoções e sentimentos costumam se confundir no vocabulário popular.


Mas o neurocientista Antônio Damásio, um dos mais importantes defensores da unidade mente-corpo, mostra em seu livro “Em busca de Espinosa”* como emoções e sentimentos se distinguem, e a importância dos sentidos, sim, os sentidos, para o mapeamento destes afetos e consequente regulação da vida.


O livro começa nos lembrando que os sentimentos de dor e prazer são a base de nossa mente. O que sentimos nos move, direciona. O tema é antigo. Desde a antiguidade já era discutido. Apesar disso, os sentimentos sempre estiveram distantes dos interesses das ciências tradicionais.


Nesse livro o foco de Damásio são os sentimentos, aquilo que são e o que fazem e as descobertas feitas sobre a natureza e significado dos sentimentos nas últimas décadas.


Inicialmente separando emoções e sentimentos para uma melhor compreensão dos dois, Damásio nos ensina que as emoções se mostram na exterioridade do corpo, como uma reação. Já os sentimentos, consequência destas emoções, são uma resposta a percepção dos efeitos corporais destas mesmas emoções em nossa mente. E a mente, embora também parte do corpo, é bem mais subjetiva, fruto de nossas interações, de nossa história, como reconhece o próprio Damásio já nos falava o bom e velho Freud.


Para Damásio, os sentimentos revelam os estados de vida dentro do organismo, o seu florescimento ou sofrimento, expressões de um luta pelo equilíbrio. Enquanto as emoções são públicas, os sentimentos são privados. Emoções vem primeiro, sentimentos depois, uma questão evolutiva.


Ao nascermos estamos prontos para ter reações. Porém, nem todas as emoções estão prontas nesse momento, algumas serão desenvolvidas em nossa trajetória de vida, através de nossas interações com o ambiente. A que reagimos faz parte da história de cada um. Aquilo que aprendemos a gostar e a não gostar não vem pronto de fábrica. São aprendizagens que a biologia não pode explicar, apenas compreender, e o sábio Damásio reconhece isso.


 

Emoções ocorrem no corpo, sentimentos ocorrem na mente.


 

A emoção é uma perturbação do corpo. Sentimentos são mentais tanto quanto os objetos que os provocam. Poeticamente falando, Damásio ensina: sentimentos traduzem o estado da vida na linguagem do espírito, revelam, ao mesmo tempo, nossa grandeza e nossa pequenez.


Para sentirmos, diz ele, as regiões somatossensitivas do cérebro recebem sinais com os quais constroem mapas do estado do corpo, em uma dança permanente em prol da vida, mapas nem sempre verdadeiros, mas sempre em criados para nossa proteção.


 

E aí cabe a pergunta: mas o que Espinosa tem a ver com isso?


 

Reconhecendo a importância de Espinosa em sua trajetória pessoal de interesses e conhecimentos, Damásio lembra, ou apresenta para alguns menos afeitos a filosofia, que para Espinosa os afetos são o aspecto central da humanidade, e assim como Damásio, também ele se preocupava com a natureza das emoções e dos sentimentos, e a relação do corpo e da mente.


Em várias referências ao filósofo mostra como seu pensamento faz parte das ideias de cultura contemporânea apesar de ausente do pensamento científico tradicional. Uma falha, afinal, como mais uma vez sabe reconhecer Damásio, a filosofia através da história sempre precede a ciência.


Damásio passeia pela filosofia com a mesma facilidade que nos apresenta seus conhecimentos sobre biologia e de suas afetações. Até àqueles menos afeitos às neurociências é impossível não se envolver com a o relato sobre seus pacientes e o percurso de seu conhecimento. Assim como Espinosa, seu interesse pela vida e pela condição humana são notórios. As neurociências nos permitem ampliar nossos conhecimentos sobre o humano. Damásio nos permite ampliar esses conhecimentos sem perdermos nossa alma. Uma arte que poucos conseguem exercer.


Talvez por isso, muitos ao lerem Damásio, acabem ficando apenas com as informações frias de descritivas neurofisiológicas, sem considerar o todo de seus conhecimentos e sua proposta de um mundo melhor. Mas o fato é que ao final do livro podemos afirmar com toda certeza: sinto, logo existo!


E você o que anda sentindo?



 

Para saber mais:

DAMÁSIO, Antônio. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos.

São Paulo: Companhia das Letras, 2004.


Conheça o livro:


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Marisa Mendes | Psicologia | CRP 05-16481

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